sexta-feira, outubro 27, 2006



A primeira vez que Paulo conheceu o Luís andaram ao soco. Com uns copos a mais, Paulo derramou parte do seu bourbon na camisa de Luís, que refilou bem alto. Paulo atabalhadoamente pediu desculpa, mas não gostou do tom de voz que o Luís lhe continuava a dirigir. Daí à zaragata foi um instante e tiveram que ser separados por Daniel e Manuel.
Luís era uma daquelas pessoas que marcava uma forte impressão logo no primeiro contacto. Como bom beirão, Luís falava com voz tonitruante e um sotaque bem acentuado. Directo no trato, dizia-se que era curto e grosso. Luís optara por vadiar quando andava no liceu e os pais para o castigarem, após chumbar duas vezes no oitavo ano, puseram-no a trabalhar no café de uns amigos.
Após o seu 18.º aniversário e com o subsídio de férias no bolso, pois os patrões encerravam em Agosto para irem de férias para o Algarve, Luís viajou até ao Porto onde após alguns dias estava a servir francesinhas no Capa Negra. Como era um trabalho temporário e dormia num quarto escuro e húmido na Ribeira, Luís decidiu pegar na trouxa e conhecer novos sítios. Porém, ao fim de alguns meses, a carta do recrutamento levou-o a Santa Margarida. Dois anos passaram num instante e quando o Luís pensava em passar a contratado, descobriu umas maroscas que o Sargento da messe fazia e em vez de participar dele, decidiu tomar a aplicação da justiça nas suas mãos. A irreflexão custou-lhe dois dias de choldra e para ele a carreira militar acabou nesse momento.
Com a carta de ligeiros e pesados nas mãos, Luís facilmente arranjou trabalho como motorista internacional, o que lhe permitiu poupar o suficiente para anos mais tarde se estabelecer em Coimbra como chofer de praça.
Numa certa noite, conduzia ele uma finalista e o namorado, quando percebeu que aproveitando-se do facto de estarem os dois tocados, o rapaz decidiu tirar a capa para ver se tinha sorte. No entanto, a finalista começou a repeli-lo, pois apesar de estar tocada não queria perder a virgindade no banco de um taxi. A impulsividade da juventude era tanta que não desanimado pela nega, o rapazola continuou a tentar. Farto dos gritos e ao perceber que a rapariga estava a começar a chorar, Luís travou violentamente o carro, abriu a porta e antes que o rapaz percebesse o que se passava, deu-lhe uma valente sova. A seguir fechou a porta e arrancou com a rapariga, perguntando-lhe onde queria que se dirigisse. A rapariga balbuciou a morada da casa do irmão. Luís tocou à porta e informou o Manuel que a Ana quase que tinha sido abusada pelo namorado no banco de trás do seu taxi.
- Estás bem ? O que se passou ? EU MATO AQUELE PULHA !!! Eu bem te disse que ele só queria uma coisa, mas NÃÃÃÃO !!! TU É QUE SABIAS. Ele era diferente. Eu já te tinha dito que os gajos são todos IGUAIS e só querem uma coisa. - Manuel estava frenético nas recriminações
- Oiça, a sua irmã passou um mau bocado e o melhor agora é confortá-la - interrompeu o Luís - Além do mais, eu já dei nos focinhos daquele animal.
- Ah foi ? Pois só se perderam as que não lhe acertaram! - exclamou espantado o Manuel - Ajude-me a trazê-la para dentro e já conversamos e fazemos contas.
Esta conversa acabou por custar a noite de trabalho a Luís, mas acabou por ganhar um verdadeiro amigo.

terça-feira, outubro 10, 2006


Manuel não era um homem bonito tipo modelo, mas tinha aquele "je ne sais quoi" que as fazia cair que nem umas patinhas. Aliás, Manuel gostava de um bom desafio e quando via que no primeiro contacto elas sentiam desconforto, até mesmo repulsa, era nessa altura que ele decidia partir para a caça. Se sentia indiferença, então Manuel sabia que era muito mais difícil e como não gostava de perder tempo, Manuel escolhia sempre aquelas que sentiam algo, mesmo que fosse um sentimento negativo.
Paulo ainda não percebera bem o que Manuel mais gostava, se da emoção da caça em si mesma, se do prazer em consumar o acto. A voracidade de Manuel, já lhe tinha trazido dissabores, pelo que a conselho dos amigos fora consultar uma psicóloga. O problema é que antes mesmo da sessão acabar, já Manuel estava a trocar saliva com a sô doutoura, que há semelhança de tantas outras que o encaravam como sendo um tipo sem classe nem educação, acabou por sucumbir ao instinto animal. Para Manuel fora apenas mais um troféu, pequenino é certo, pois nem implicou muito tempo de caça.

Claro que depois disso ainda foi a casa dela presentear-se algumas vezes. A sô doutoura era divorciada, tinha dois filhos pequenos e o marido tinha-a deixado para ir viver com um puto de 18 anos. É claro que isso fôra um choque muito grande e nem a capacidade profissional a ajudara, pelo que andava em terapia. Sempre que a depressão aumentava, os filhos ficavam com os avós e quando conhecera o Manuel, a depressão agravara-se muito. Pelo menosisso era o que os pais dela pensavam. A Margarida não tinha tido ninguém desde que o marido a deixou e portanto agora que estava com o Manuel aproveitava ao máximo para tirar a barriga de misérias.
No entanto o Manuel ao fim de algum tempo começou a tirar partido da situação. Saía à noite, tentava engatar umas tipas e se não tivesse sorte, ao fim da noite ligava-lhe a dizer que ia passar por lá para a Margarida se preparar, isto é, para fechar os filhos no quarto enquanto ele estivesse lá.