segunda-feira, setembro 18, 2006


Os km's sucediam-se a um ritmo inacreditável. Como sempre em excesso de velocidade, não porque houvesse pressa, mas porque na auto-estrada não fazia sentido conduzir a 120, pois esse era o limite que tinham imposto na década de 70 quando os automóveis pouca ou nenhuma segurança tinham e quando a maioria pouco passava dos 120. Hoje em dia qualquer comercial atinge os 160/170, quanto mais um coupé da baviera.
O dia tinha sido longo e Daniel não podia esperar por chegar ao destino.
Figueira, que saudades tinha daquelas tardes com os amigos a beber cervejas fresquinhas enquanto limpava a vista com as miúdas de Buarcos. Belas tardes e melhores noites aí tinha passado, mas agora o objectivo era outro. Em vinte minutos começaria a procurar lugar para estacionar, de preferência mais perto possível do casino. Sempre se sentira um bocado claustrofóbico naquele espaço demasiado acanhado. Mas na semana passada ganhara 500 euros e queria prolongar essa maré de sorte.
Daniel não se considerava viciado, mas aos olhos de qualquer outra pessoa, não viciada claro está, era clara a compulsão de Daniel. Fazia para o próximo mês seis anos que tinha parado de jogar, pois perdera quase 10.000 euros ao jogo e muita falta lhe faziam agora.
"Sentes-te com sorte ? Are you feeling lucky ? Punk !" - perguntou Paulo enquanto acendia um marlboro tradicional (Paulo não gostava de coisas light).
"Estou cá com uma fezada. Acho que é hoje que que me sai el gordo" - retorquiu o Daniel muito convicto.
Paulo olhou para o Daniel e passou-lhe o cigarro enquanto fazia contas de cabeça.
"Sabes uma coisa?" - perguntou o Paulo ficando em silêncio.
"Se não me disseres não consigo adivinhar, pois não estou na tua cabeça, certo ?"
"Deixa para lá, não é nada de importante." - disse o Paulo que se arrependeu do que ia dizer.
"Que raio de mania tens tu. Começas as coisas e depois calas-te." - atirou o Daniel começando a ficar irritado, o que se notava por a veia no lado direito da testa ficar saliente - "Sabes que eu odeia essa merda e continuas a fazê-lo. Se quiseres diz logo, agora não te ponhas cá com merdas."
O Paulo que já sabia como as coisas iam descambar limitou-se a mencionar que estava a pensar alto e procurou um assunto qualquer que tivessem hoje para justificar a menção.
"Estou a ficar cheio da fome. O que é que vamos comer ? Paramos no marquês ?" - Paulo optou pela comida como sendo um assunto neutro, mas enganou-se.
"Achas ? Temos é que ganhar a guita e depois logo paramos numa estação de serviço."
"Ok, vamos ver é se arranjamos um lugar perto do casino." - disse o Paulo para matar a conversa, pois estavam a entrar na Figueira e não valia a pena lutar contra a compulsão ...